Incêndio boate em Santa Maria RS


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Incêndio boate em Santa Maria RS

IsaacdeCristo
postou em Ter, 29 Jan 2013, 00:33
Colaborador Nível 5 | Mensagens: 3222

    Prezados amigos,

    Reportagens já apontam, segundo o layout da imagem a seguir, falha de projeto no que se refere às rotas de fuga, saídas de emergência, etc. Mas o que quero trazer à discussão é sobre o PROJETO, que nos toca, enquanto profissionais que somos.

    O que dizem TECNICAMENTE sobre tudo isto?


    Layout da boate. Imagem: Rede Globo em 28/01/2013.

    Obs.: Em tempo externamos nossa inteira solidariedade às familias das vítimas desta fatalidade.


    Editado pela última vez por IsaacdeCristo em Sex, 01 Fev 2013, 10:52, num total de 1 vez

    _________________
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    Autor: ISAAC DE CRISTO - Arquiteto (CAU/BR: 144572-3)

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    Bruno
    postou em Ter, 29 Jan 2013, 09:20
    Usuário Nível 4 | Mensagens: 168

      Não tem como falar um "a" do projeto sem saber a lotação máxima da casa estipulada no projeto. Olhando o layout é perfeitamente possível esta utilização desde que estivesse bem sinalizada.

      Não necessariamente é exigido que a edificação tenha "saídas de emergência" uma vez que o projeto só se atem à vazão de saída das pessoas seja pelas entradas/saídas convencionais ou por saídas de emergência propriamente ditas.

      A utilização e operação das entradas e saídas é de inteira reponsabilidade do dono do empreendimento. Se colocarem seguranças pra cobrar comandas na saída o Corpo de Bombeiros não tem nada a ver com isto, uma vez que no desenho (e na vistoria para emissão do AVCB) somente é visto uma ampla entrada/saída para um número X de ocupantes.

      Hoje de manhã no Bom Dia Brasil os âncoras metralharam um Major do Corpo de Bombeiros, praticamente culpando a organização pela aprovação de um projeto que "não funcionou". Não é a área deles, mas não custava nada terem contatado algum profissional (que saiba o que está dizendo) para poderem elaborar melhor os fatos e também apresentarem melhores perguntas a serem exibidas.

      Estou vendo tanta coisa errada, em foruns, facebook, jornais etc. que chega a doer. Acho prudente por exemplo, esperarmos a liberação do projeto de combate a incêndio antes de falar mais algo pois o mesmo ainda não foi divulgado.

      _________________
      Bruno Gonçalves Faria
      Cálculo Estrutural
      bruno.gfaria@gmail.com

      Alex Barreto Cypriano
      postou em Ter, 29 Jan 2013, 10:15
      Usuário Nível 3 | Mensagens: 137

        Sob o impacto de tamanha e mortífera tragédia, que consternou à nação e ao mundo, tudo se complica na busca ansiosa do por quê e no desejo de vingança legal contra os eventuais responsáveis. Bruno tem toda razão ao apontar as acintosas precipitações dos presumidos tribunos midiáticos e em clamar judiciosa prudência. Cada um chorará e enterrará seus mortos, demonstrações de pesar e solidariedade surgirão de toda parte, demagogos plantonistas demandarão novas leis e normas, jornalistas arrastarão o assunto o quanto desejarem e a opinião pública continuará acreditando que procedimentos administrativos (papéis e carimbos e assinaturas) constituem inabalável muralha contra casual sinistro, de origem natural ou antrópica. O homem, escreveu Cioran, segrega desastres.

        Alex Barreto Cypriano
        postou em Ter, 29 Jan 2013, 10:22
        Usuário Nível 3 | Mensagens: 137

          Quanto ao projeto, não saberia dizer muito. Mas é certo que o edifício era uma câmara de retenção (dos objetos, dos sujeitos, dos ruídos e, "last but not least", do almejado dinheiro) que se transformou, por arte maligna, numa câmara de morte.

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          Paulo José Barreto
          postou em Qua, 30 Jan 2013, 13:48
          Usuário Nível 1 | Mensagens: 42

            Isaac e demais companheiros de fórum
            Não saberia dizer se o lay-out é ou não apropriado, mas creio que independente disso parecem ter faltado ítens básicos de segurança ( o grifo ressalta que não temos nenhum conhecimento dos projetos), tais como: sistemas de detecção e alarme de incêndio; extintores apropriados para os diversos materiais que revestiam a boite; exaustão adequada para o ambiente;indicação luminosa da saída; talvez a presença no local de profissionais treinados (brigadistas de incêndio) para combater o incêndio ainda no principio;saídas compatíveis com a lotação prevista. Poderia até relacionar mais "tantos" outros ítens, mas acho precipitada qualquer avaliação que não esteja embasada na análise dos equipamentos previstos e existentes no local
            Creio ( mas só teria certeza após a análise dos projetos) que mais uma vez o "somatório" de erros contribuiu para mais essa tragédia...Foi assim em tantos outros casos ( Ed.Joelma-SP, Ed.Andraus-SP, Ed.Andorinha-RJ...), e continuará acontecendo enquanto não se levar a sério o projeto e a instalação de equipamentos de prevenção e combate a incêndios, bem como a manutenção de todas as instalações.
            Espero que aprendamos alguma coisa de toda essa lamentável tragédia.
            Fica o nosso sentimento de tristeza por todos os jovens que morreram.
            Um abraço a todos
            Paulo José Barreto
            Eng.Civil
            Msc. em Estruturas

            Incêndio Santa Maria - RS

            Guilherme Garc
            postou em Qua, 30 Jan 2013, 16:13
            Usuário Nível 4 | Mensagens: 163

              Senhores,

              Já participei da execução de muitas obras de shopping e suas respectivas lojas. Pude perceber uma real preocupação com a prevenção e combate a incêndios, onde os projetos continham todos os itens de segurança gerais e específicos, conforme cada necessidade.

              Para obras de casas de espetáculo o rigor não é o mesmo. Já cada coisa de dar medo.

              Pelo que foi exposto e possível entender é que o principal fator foi, além de tudo que já foi dito, o descumprimento da capacidade de lotação. Isso se repete e as coisas se potencializam. O fogo se alastrou com rapidez e a vazão das pessoas ficou limitada obviamente por conta da quantidade de pessoas. Inclusive teve muita gente que estava próximo ao foco do incêndio e que conseguiu sair.

              Se alguém disser que a casa podia estar aberta, olhamos da porta para dentro e para a administração do evento. Se a casa não podia estar aberta por falta de segurança, por estar fora dos padrões estabelecidos, etc, então precisamos olhar da porta para fora. E, finalmente, se as coisas aconteceram por terem corrompido alguém e colocarem o local em funcionamento, ai todos tem que ser presos.

              _________________
              Abraços e bons trabalhos.

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              Engenharia Diagnótica

              Guilherme Custódio Garcia Jr
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              Danilo Guidini
              postou em Qua, 06 Fev 2013, 16:34
              Usuário Nível 1 | Mensagens: 4

                Concordo com o Bruno, pois agora (após a tragédia) sobra a revolta por algum culpado, ou todos, e o desejo incessante de justiça prematura incentivado por parte da imprensa impiedosa que nos leva a pensar que os donos da boate, os músicos, o poder público, o Corpo de Bombeiros, os políticos, todos são culpados. Isso tudo sem sair os laudos comprobatórios.
                Pergunto-lhes:
                Se não tivesse acontecido esta fatalidade as normas e leis continuariam não sendo seguidas?
                Os estabelecimentos do gênero e, também os demais estabelecimentos continuariam funcionando de forma irregular ou de forma insatisfatória?
                Continuaria sendo tolerada a falta de bom senso de profissionais (responsáveis ou não) e proprietários?
                A nós, profissionais, resta seguir uma regra básica da Engenharia que pode evitar que tais tragédias voltem a acontecer ( não apenas incêndios, mas também, queda de muros e marquises, explosões causadas por vazamento de gás, crateras por falta de manutenção, deslizamentos, etc.) Engenharia = Ciência + Bom Senso.

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                Incêndio boate em Santa Maria RS

                IsaacdeCristo
                postou em Sex, 08 Fev 2013, 09:45
                Colaborador Nível 5 | Mensagens: 3222

                  Danilo Guidini escreveu: Engenharia = Ciência + Bom Senso.


                  Caro Danilo,

                  Muitas vezes os problemas não surgem por falhas diretamente ligadas à engenharia ou ao projeto, surgem porque alguns proprietários (investidores sem escrúpulos) querem reduzir os custos e para isso suplantam especificações e até "forçam" profissionais a projetarem ou modificarem os projetos ao seu bel prazer e economia. Sem falar que muitos proprietários modificam os projetos sem sequer comunicarem ao profissional. Então neste jargão, muitas vezes a "ciência" está com os profissionais mas o "bom senso" fica mesmo é a critério do proprietário.

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                  Brick wallVai construir, reformar ou investir em imóveis?
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                  Autor: ISAAC DE CRISTO - Arquiteto (CAU/BR: 144572-3)

                  Bruno
                  postou em Sex, 08 Fev 2013, 13:10
                  Usuário Nível 4 | Mensagens: 168

                    Segue o relatório técnico do CREA-RS sobre o caso:

                    Apresentado em uma coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (04) o Relatório produzido pela Comissão de Especialistas em Segurança contra Incêndio formada pelo CREA-RS após a tragédia em boate de Santa Maria, após visita técnica ao local e análise da documentação relativa ao local, apontou uma "série de erros" que levaram ao incêndio que vitimou 237 pessoas na madrugada do dia 27 em Santa Maria.

                    Além de repórteres dos principais veículos de comunicação, acompanharam a apresentação, realizada pelo coordenador da Comissão, Eng. Civil Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, em nome dos demais integrantes do grupo, os deputados estaduais Adão Villaverde e Valdeci Oliveira; o chefe e o sub-chefe da Divisão Administrativa da Defesa Civil do RS, major Benhur Pereira da Silva e Paulo Roberto Locateli, respectivamente; o coordenador-geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RS; Rodrigo Puggina; João Otávio Carbonara Paz, dirigente do Núcleo de Direitos Humanos da Defesensoria; além de conselheiros e representantes de entidades da classe da área tecnológica do RS.

                    De acordo com o documentos, "a análise das informações disponíveis até o momento aponta como causas fundamentais para a ocorrência do incêndio a combinação do uso de material de revestimento acústico inflamável, exposto na zona do palco, associada à realização do show com componentes pirotécnicos".

                    Entre as causas as causas determinantes da tragédia, conforme apontaram os especialistas, estiveram a falha no funcionamento dos extintores de incêndio, a dificuldade de evacuação, a deficiência nas saídas e na iluminação de emergências, a falta de um mecanismo para retirar a fumaça e a utilização de materiais inadequados, como a espuma emborrachada que queimou e liberou o gás cianeto, que intoxicou a maior parte das vítimas.

                    Segundo o presidente do CREA-RS, Eng. Luiz Alcides Capoani, o acidente deve servir para que se evoluam nas regras e legislações que garantam a segurança da população. "Propomos um trabalho conjunto Crea, Bombeiros, governos estaduais e municipais, judiciário, legislativos, universidades, entre outros, que resultem em maior rigor na fiscalização, na especificação dos materiais, na manutenção e inspeção das edificações que sirvam de ferramentas reais na segurança contra incêndio e pânico e no uso correto de nossas edificações, visando dar maior segurança à população", destacou.

                    Além de apontar as causas que resultaram na tragédia, a Comissão de Especialistas do CREA-RS também apontou soluções, entre eles, alteração nas normas para materiais de isolamento, modificação na formação de técnicos de prevenção contra incêndio, criação de forças-tarefas em municípios para analisar a legislação, elaborar um código estadual de segurança contra incêndio e pânico, criação de campanha institucional para mostrar a sociedade os riscos, além da criação de um departamento técnico dentro do Corpo dos Bombeiros.

                    Compõe a comissão os Engenheiros Civis: Luiz Carlos Pinto da Silva Filho (coordenador), diretor do Centro Universitário de Estudos e Pesquisa sobre Desastre; Carlos Wengrover (adjunto), coordenador do CB-24 RS; Capitão do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar Eduardo Estevam Camargo Rodrigues, conselheiro suplente da Ceest do CREA-RS; Telmo Bretano, professor da UFRGS-PUCRS; Marcelo Saldanha, conselheiro da Câmara Civil e presidente do Ibape-RS.

                    _________________
                    Bruno Gonçalves Faria
                    Cálculo Estrutural
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